"Pode dormir em minha boca, o beijo é também voz, o beijo é uma história que vou lhe contar."
[Fabrício Carpinejar, Carta para Ale]
No mais recente livro de Carlos Moraes, o ótimo Agora Deus vai te pegar lá fora, há um trecho em que uma mulher ouve a seguinte pergunta de um major: "Por que você não é feliz como todo mundo?". A que ela responde mais ou menos assim: "Como o senhor ousa dizer que não sou feliz? O que o senhor sabe do que eu digo para o meu marido depois do amor? E do que eu sinto quando ouço Vivaldi? E do que eu rio com meu filho? E por que mundos viajo quando leio Murilo Mendes? A sua felicidade, que eu respeito, não é a minha, major". E assim é. Temos a pretensão de decretar quem é feliz ou infeliz de acordo com nossa ótica particular, como se felicidade fosse algo que pudesse ser visualizado. Somos apresentados a alguém com olheiras profundas e imediatamente passamos a lamentar suas prováveis noites insones causadas por problemas tortuosos. Ou alguém faz uma queixa infantil da esposa e rapidamente decretamos que é um fracassado no amor, que seu casamento deve ser um inferno, pobre sujeito. É nessas horas que junto as pontas dos cinco dedos da mão e sacudo-a no ar, feito uma italiana indignada: mas que sabemos nós da vida dos outros, catzo? Nossos momentos felizes se dão, quase todos, na intimidade, quando ninguém está nos vendo. O barulho da chave da porta, de madrugada, trazendo um adolescente de volta pra casa. O cálice de vinho oferecido por uma amiga com quem acabamos de fazer as pazes. Sentar no cinema, sozinho, para assistir ao filme tão esperado. Depois de anos com o coração em marcha lenta, rever um ex-amor e descobrir que ainda é capaz de sentir palpitações. Os acordos secretos que temos com filhos, netos, amigos. A emoção provocada por uma frase de um livro. A felicidade de uma cura. E a infelicidade aceita como parte do jogo - ninguém é tão feliz quanto aquele que lida bem com suas precariedades. O que sei eu sobre aquele que parece radiante e aquela outra que parece à beira do suicídio? Eles podem parecer o que for e eu seguirei sem saber de nada, sem saber de onde eles extraem prazer e dor, como administram seus azedumes e seus êxtases, e muito menos por quanto anda a cotação de felicidade em suas vidas. Costumamos julgar roupas, comportamento, caráter - juízes indefectíveis que somos da vida alheia -, mas é um atrevimento nos outorgarmos o direito de reconhecer, apenas pelas aparências, quem sofre e quem está em paz. A sua felicidade não é a minha, e a minha não é a de ninguém. Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e no que ela é capaz de desfazer para manter-se sã. Toda felicidade é construída por emoções secretas. Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só se permitirmos. [Martha Medeiros, crônica 'A minha felicidade não é a sua', do livro Coisas da Vida]
"Sempre me restará amar (...) Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera."
[Alice Ruiz]
Quando estamos viajando, desde a saída meu filho resmunga: estamos chegando? Afirmo que sim, apesar de faltarem 300 quilômetros. Cinco minutos depois, lá vem ele com a mesma pergunta: estamos chegando? Por mais que ande rápido ou vença o trajeto, nada o demoverá da teimosia de querer descer logo ou de ser informado com detalhes de onde está. Estar chegando revela a ansiedade em definir os relacionamentos. Fala-se da proximidade para afugentar a distância. Não é uma mentira, é uma verdade afoita. Apressamos em dizer que amamos para não conviver com as dúvidas e tampouco gerar suspeitas da legitimidade do sentimento. Há uma pressa pelo final em todo início e há uma pressa pelo início em todo final. É obrigatório dizer "eu te amo" para continuar e formalizar o laço. Talvez seja paixão, mas "eu te amo" já pula da garganta. Talvez seja atração, e "eu te amo" fica sentado na primeira fila. Talvez seja carência, e "eu te amo" puxa a ponta da camisa e da língua para a frente. Não que seja desonesta a declaração, pois não definiremos ao longo dos dias quando se ama verdadeiramente. A precipitação é um modo de garantir, de tomar conta. Não se vive de porta aberta, "eu te amo" é a chave. Ama-se com o quarto fechado. É dito para fazer valer o esforço da conquista, coroar a sedução, assegurar que aquela pessoa é sua, e que não mais corre o risco de perdê-la. Caso nenhum dos dois fale, amarga-se uma sensação de inutilidade e de desprezo. Não existe como sair ileso da encruzilhada: se não apregoamos o "eu te amo", somos insensíveis; se declaramos toda hora, pode se tornar um aceno, mero cumprimento. É preciso cuidar para que não seja usado sem vontade. Um selinho não é suficiente para mandar a carta. Sem desejo, o "eu te amo" é saudação de lápide; entra-se no território da proteção e da rotina, para se despedir de amar. Servirá para afastar o beijo quando deveria prolongá-lo. E as atitudes, e as outras palavras não contam? Quantas vezes proclamamos o amor precocemente? Antecipamos para que, de fato, venha. Prometemos para depois ver se acontece. Ainda que incomparável, o amor se faz pela comparação com experiências anteriores. Define-se pela sua força em sobrepujar as lembranças. É a superação do que foi vivido que valida ou não sua intensidade. Não representa o amor, e sim uma nova tentativa de amar. Será que o amor não é tão-somente vontade de amar? Não chegarei, amor é estar a caminho. [Fabrício Carpinejar, crônica 'Estamos chegando?' do livro Canalha!, Editora Bertrand Brasil]
Os meios não justificam o fim. Por mais que se convencione que o amor não tem regras, o amor tem legislação. O corpo tem legislação. As regras não são imutáveis, mas precisam ser respeitadas em comum acordo. Conheço vários casamentos que terminaram na caixa de correio eletrônico. Não estou falando de um e-mail desaforado ou de um fora virtual, uma esmola diante da possível falência provocada pela indiscrição matrimonial. Desconfiados de infidelidade, mulheres e homens logo violam os computadores de seus parceiros e devassam a correspondência de e-mails. É mais agressivo do que mexer nos bolsos e na bolsa. É mais agressivo do que conferir o boleto do cartão de crédito e a conta do celular. Óbvio que alguma coisa será encontrada entre o destinatário e o remetente. Algo que desconhecem do marido ou da esposa. Podem achar mensagens excessivamente carinhosas, ou não compreender o súbito interesse por cavalos crioulos. Haverá textos cifrados, passíveis para qualquer contexto, do motel ao escritório. O que entender? O pior, sempre. A paranóia não procura boas notícias. Quando se mexe numa caixa postal, o detetive doméstico ou o hacker amoroso tem certeza da traição. Procura apenas comprovar, para chafurdar o passado e reconstituir os últimos meses. Ele não está questionando, está julgando e elaborando a sentença. Como não deseja ser o último a descobrir o caso, elimina o pudor e quebra a etiqueta do convívio e da amizade. Tomados de vergonha, ele e ela não contarão que invadiram. Começarão a perguntar - de modo inofensivo - sobre alguma pessoa. Toda resposta formal a respeito do assunto desagradará. "Ela é legal" e "ele é um grande amigo" não servem. Inicia-se uma pressão por detalhes em que o interlocutor não entende absolutamente nada - porque não sonha com a possibilidade de que seu e-mail particular virou uma biblioteca pública. Quando se entra numa caixa postal que não é nossa, a infidelidade já aconteceu. Não adianta fundamentar a insanidade do ato porque foram encontradas provas verídicas de infidelidade. A consequência da busca e da apreensão não elimina o constrangimento. Não apaga a sensação de furto. O marido ou a esposa podem ter sido covardes de não contar o que estavam fazendo. Podem ser covardes pelas traições sigilosas. Mas mexer na caixa postal dele ou dela é frequentar o mesmo patamar de covardia. É arrebentar o laço de confiança. O fio ficará curto para um outro nó. [Fabrício Carpinejar, crônica do livro Canalha!, Editora Bertrand Brasil]
Eu tomava ônibus em viagens mais longas com meu travesseiro. Um longo travesseiro pendurado no braço, além da mala e do ar madrugado. Era o equivalente a levar uma centelha de casa para um lugar impessoal. Era um resto do quarto. Um pedaço da cama. Enganava o desconforto da poltrona com a intimidade de um capricho pessoal. Facilitava meu descanso entre o corredor escuro e a janela de luzes bruxuleantes. Ficava menos enjoado da mistura de diesel, de couro e cortinas antigas. O travesseiro é leal porque traz o cheiro do passado. Ainda observo muitos passageiros, entre crianças, jovens e velhos, carregando o travesseiro na rodoviária. São figuras engraçadas, a arrastar o casaco da infância. Segurando o pano como um filho dormindo, a manter os cuidados do leite e do peito. Quando embarcamos num amor, levamos o travesseiro. O travesseiro é o que temos de mais particular. Mas quem nos recebe pode identificar nele simplesmente um pano velho. Uma superstição. Um laço antigo. Uma teimosia. Não enxerga que uma vida nova não apaga a vida anterior. Pode não ser o travesseiro, pode ser uma frase, um gesto, um ritual familiar, que vale muito e que carregamos conosco.Um objeto que nos identifique. Que diga de onde viemos e que mostre que temos uma história. Há a ideia de que o amor é ambição. A maioria não entende que ele cabe num travesseiro. Por mais que se dê linguagem e atenção, o outro achará pouco. Por mais que se cozinhe, faça surpresas, leve a amizade para passear de mãos dadas, o outro achará pouco. Por mais que se apaixone e se enlouqueça, que mude os hábitos, o outro achará pouco. Por mais que se abra a memória, confidencie segredos, o outro achará pouco. Por mais que se transe na mesa, costure as roupas, ajude nas economias, inspire o trabalho, o outro achará pouco. Por mais que se pouse, que se proteja, o outro achará pouco. E damos tudo que temos, e o outro achará pouco. E damos tudo que poderemos ser, e o outro achará pouco. Sempre pouco. Falimos, e o outro achará pouco. Nascemos de novo, e o outro achará pouco. Morremos de novo, e o outro achará pouco. Exaustos, arrebentamos o travesseiro e não entendemos como as penas já souberam voar. Pouco, pouco, pouco. Quem achou pouco, não entende de amor. Quando se ama, acorda-se vestido para o milagre. [Fabrício Carpinejar, crônica 'Bordado com as Iniciais' do livro Canalha!, Editora Bertrand Brasil]
[René Magritte, Shell in the Form of an Ear, 1956]
Uma senhora bem simples rodou e rodou a vitrine de uma loja, até que entrou. Pediu para "experimentar" um radinho de pilha. "Posso testar?" A atendente pensou que era para ligar o rádio. Mas testar era colocar o aparelho nos ombros, para ver se pousava bem nos ouvidos. Mexeu-se muito até que encontrou uma posição confortável para o radinho. E amansou os olhos por alguns minutos como se ouvisse uma estação. Cerrou os olhos e rebolou o queixo devagar. Juro que ouvi a música que não existia, apenas acompanhando seu rosto. A atendente irritou-se com a demora e perguntou se ela levaria o produto. "Vai pagar com cartão de crédito?" Ela respondeu que "mais ou menos" e saiu.
Não gosto de chamá-la de senhora. Vou chamá-la de Vanessa. Vanessa experimentou o rádio como quem estava se vestindo, como quem prova comida, como quem testa um travesseiro ao dormir. Ela colocou seus longos cabelos de trigo ao lado para calçar o som. Abençoou a rua do seu pescoço. Como uma rosa que não se apequena com a água entre as pétalas. A água, uma pétala que não murcha.
Não temos mais paciência para experimentar um amor. Colocar as roupas antes de tirar. Dentro da gente, há sempre uma pressa que aponta: "Vai levar?"
Há sempre alguém que acelera o relacionamento. Que agride antes de compreender, que julga antes de conviver. O amor não é suspeita, é superar a desconfiança. Todos se conhecem sem ao menos pedir permissão para entrar, licença para sentar e puxar a cadeira. Como se soasse um zumbido de "agora ou nunca?"
Queremos um amor rápido, não um amor constante, não um amor com as medidas do corpo. Ou com as medidas da voz nos ouvidos, que não seja largo demais nos ombros, nem pesado demais para carregar de um lado para o outro da casa. Como o rádio de Vanessa. [Fabrício Carpinejar, crônica do livro Canalha!, 2007, Editora Bertrand Brasil]
"Os caminhos quando não trilhados deixam de existir,
crescem trepadeiras, espinheiros, o regato muda o tom e tudo tem ares de solidão. não ... não adiem o partir." [Daufen Bach]
Cristão é chamado a servir em toda parte. Na casa do sofrimento, ministrará consolação. Na furna da ignorância, fará consolação. No castelo do prazer, ensinará a moderação. No despenhadeiro do crime, sustará quedas. No carro do abuso, exemplificará sobriedade. Na toca das trevas, acenderá luz. No nevoeiro do desalento, abrirá portas ao bom ânimo. No inferno do ódio, multiplicará bênçãos de amor. Na praça da maldade, dispensará o bem. No palácio da justiça, colocar-se-á no lugar do réu, a fim de examinar os erros dos outros. Em todos os ângulos do caminho, encontraremos sugestões do Senhor, desafiando-nos a servir.
[Francisco Cândido Xavier. Da obra: Agenda Cristã. Ditado pelo Espírito André Luiz]
"Não foi à toa que Adélia Prado disse que 'erótica é a alma'. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: 'continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?'" [Rubem Alves]
"Na 'mulher interessante', a beleza é secundária, irrelevante e, mesmo, indesejável. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: - ser bonita não interessa. Seja interessante."
[Nelson Rodrigues]
"Não tente entender ou resumir a alma feminina, procure complicá-la. Confusão é inteligência. Mulher gosta de ser vista como um problema para depois ser promovida a uma crise, para depois avançar em teorema e terminar como enigma." [Reader’s Digest de maio de 1951, matéria de Peter Risel. Tradução de Fabrício Carpinejar]
"Remexo dentro de mim, nem sempre é fácil saber a parte de nós que ficou no caminho: toco... faço a ferida arder. Sentir a ferida, é a maneira mais rápida de curá-la. Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem." [Cah Morandi, Desencontro]
[arte de Franz Falckenhaus] "O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro." [Fala de Tuahir, Mia Couto in "Terra sonâmbula"]
"Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo." [Helena Kolody, soneto Sonhar]
"É porque o Céu está tão distante que nossa alma sofre com saudade do Infinito. Mas é por estar tão alto e afastado que pode caber na exiguidade de olhos acostumados a contemplá-lo." [Professor Hermógenes]
VIII Lobos? São muitos. Mas tu podes ainda A palavra na língua Aquietá-los. Mortos? O mundo. Mas podes acordá-lo Sortilégio de vida Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos. Mas se farão milhares Se à lucidez dos poucos Te juntares. Raros? Teus preclaros amigos. E tu mesmo, raro. Se nas coisas que digo Acreditares. [Hilda Hilst]
"Do bem e do mal Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos. Não há coisa na vida inteiramente má. Tu dizes que a verdade produz frutos... Já viste as flores que a mentira dá?" [Mário Quintana]
"...cada um de nós é este pouco e este muito, esta bondade e esta maldade, esta paz e esta guerra, revolta e mansidão."
"O amor verdadeiro tem dessas coisas: não se explica, não se controla, não se racionaliza, simplesmente toma conta. É uma droga, um vício, uma viagem entre céu e o inferno, ida e volta, sem parar." [Martha Medeiros]
[Henri de Toulouse-Lautrec, In Bed The kiss, 1892]
"Dizes que brevemente serás a metade de minha alma. A metade? Brevemente? Não: já agora és, não a metade, mas toda. Dou-te a minha alma inteira, deixe-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e adorar-te."
[Graciliano Ramos in Cartas de amor a Heloísa]
"Creio que foi o sorriso, o sorriso foi quem abriu a porta. Era um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele, tirar a roupa, ficar nu dentro daquele sorriso." [Eugénio de Andrade]
__________Não sou completa. Completa lembra realizada. Realizada é acabada. Acabada é o que não se renova a cada instante da vida e do mundo. Eu vivo me completando, mas falta um bocado!_____ [Clarice Lispector]
"No mistério do sem-fim equilibra-se um planeta. E, no planeta, um jardim, e, no jardim, um canteiro; no canteiro uma violeta, e, sobre ela, o dia inteiro, entre o planeta e o sem-fim, a asa de uma borboleta."
Era uma vez uma menina, de olhos negros e longas tranças no cabelo.
Como todas as meninas, gostava de brincar com bonecas, em castelos e contos de fadas, inventando príncipes e princesas, reinos de magia, bolas de algodão doce e céus azuis pejados de arco-iris.
A infância era feliz.
Todas as infâncias deveriam ser assim, felizes.
Com tempo para brincadeiras, correrias nos pátios da escola, sorrisos abertos.
Aquela menina possuía no entanto… um dom especial.
No recanto seguro do seu quarto, pintava pedras.
Grandes, pequenas, de todas as formas e feitios. Aprendera a gostar das pedras, tal como aprendera a gostar de pintar, observando a mãe, quando esta se perdia no jardim, falando com as flores.
Como era linda, a sua mãe.
E como gostava de a desenhar, de memória, de olhos fechados, rabiscando na folha de papel os traços meigos do seu rosto.
Naquele momento, as suas mãos seguravam duas pequenas pedras, estranhamente iguais a dois corações. Encontrara-as à beira do rio, encostadas uma à outra.
Quando reparou nelas, foi como se um vento súbito lhe varresse a alma de uma cor límpida, como se de repente a primavera tivesse entrado sem pedir licença a ninguém. Apanhou-as, cheia de cuidado.
Agora… agora as duas pequenas pedras, os dois pequenos corações fitavam-na, pousados sobre a mesa de madeira do quarto, a tinta vermelha ainda por secar, brilhantes.
Uma seria para si.
Guardá-la-ia sempre junto ao coração.
A outra… sempre tivera um destino certo para ela…
Pouco depois, descia as escadas a correr, um embrulho a chocalhar com uma pequena pedra colorida dentro, um vistoso laço vermelho por fora.
- Mãe…. Mãe… - ia gritando - onde estás? Tenho aqui uma prenda para ti… onde estás?
Nota: Para a Gislene, uma daquelas raras pessoas que sabe contagiar os outros.
"A caridade é um exercício espiritual... Quem pratica o bem, coloca em movimento as forças da alma."
Esperança...
Mahatma Gandhi
"A fé - um sexto sentido - transcende o intelecto sem contradizê-lo."
Carl Sagan
"Somos, cada um de nós, uma multidão. Dentro de nós existe um pequeno universo."
Por Chico Xavier
"A aceitação é a chave através da qual acharemos forças para suportarmos as provações."
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"Uma mulher se aproxima de Chico, e reclama das amarguras da vida. Então, ele diz: Minha filha, vida doce demais dá diabetes."
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"Lembra-te de que falando ou silenciando, sempre é possível fazer algum bem."
Vida
Clarice Lispector
"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho."
"As coisas mais simples da vida são as mais extraordinárias, e só os sábios conseguem vê-las."
CHICO XAVIER
"Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente."
Soneto da Fidelidade
"De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure."
[Vinícius de Moraes]
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