sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A COR DO CORAÇÃO

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

- Mãe...
- Tu gostas muito de mim, não gostas?
- Se gosto? Mas isso nem se pergunta, meu amor... eu adoro-te.
- E a Joana?
- Também a adoro... muito, muito, muito...
- Mas eu cheguei primeiro... devias gostar mais de mim...
- Oh, Luisinha... como seria possível? Eu adoro as duas, vocês as duas são as coisas mais especiais da minha vida...
- Então... gostas o mesmo... de nós as duas?
- Gosto... gosto muito... e gosto o mesmo das duas...

( Silêncio )

- Sabes, mãe... lá na escola às vezes perguntam-me coisas... que não consigo responder...
- Sim, Luisinha? E que coisas?
- Tantas coisas... mas há sempre uma coisa que perguntam mais do que todas as outras...
- Sim, meu amor? E o que é?
- Querem sempre saber... porque é que eu sou de uma cor e a mana é de outra cor... não deveríamos ser ambas da mesma cor?

( Silêncio )

- Luisinha... chega aqui...
- Sim, mãe?
- Queria só mostrar-te uma coisa... estás a ver isto?
- Estou ... são aquelas duas blusas novas que tu compraste ontem... a branca e a preta...
- Sim... essas mesmas... fecha os olhos, quero que descubras uma coisa...

(...)

- Estás a sentir? Consegues senti-lo?
- Claro que sim, mãe... é o teu coração a bater... já me tinhas mostrado antes...
- Sim... mas agora é outra coisa que te quero mostrar... não abras os olhos, deixa-me só trocar...

(...)

- E agora? Continuas a senti-lo?
- Sim... está igual. É outra vez o teu coração.
- E não notaste nenhuma diferença, nem um pedacinho?
- Não... porquê? Já posso abrir os olhos?
- Já, querida, já podes...

(...)

- Mãe... trocaste de camisa? Para quê?
- Nada de especial, meu amor... foi só para ter a certeza que reconhecias o bater do meu coração...
- Mas o teu coração... é sempre o mesmo, mãe...
- Pois é... A cor da blusa é como a cor da pele, não é? Como é que eu não hei-de gostar de vocês as duas por igual? O coração é o mesmo...

( Silêncio )

- Mãe...
- Sim, meu amor?
- Estavas a falar da Joana, é isso? Da cor da pele dela, é isso?
A mãe sorriu.

- Não meu amor...da cor da pele, não... da cor do coração.


Um conto de Rolando Palma.
Seu blog é o
entremares.blogs.sapo.pt
O Rolando anda meio sumido...Espero que volte logo!
Mas, fica a saudade do encanto de seus contos.
Amigo... abraço e paz!

4 bilhetes:

Teresa Cristina disse...

Oiee Gi....lindo encantador mesmo....o que importa acima de td sempre é o Amor!
Bjss no ♥

Ives disse...

Que lindo! Deviamos sempre olhar para o coração, p o espírito, nos atirar nos olhos e ai quem sabe, descobrir algum sustentável, abraços

Fátima Guerra (Mellíss) disse...

Querida,
que conto adorável ! Emocionante.
Parabéns ao autor e a você, pela belíssima postagem.
Apoiando-me na sua sensibilidade, peço licença para deixar este recadinho :

Neste mês de Outubro, dedicado às
crianças, abro as postagens do meu blog, homenageando Verônica,criança africana, vítima da violência que está em toda parte.
Peço uma prece por ela.
Peço uma prece por todas as crianças do mundo.
Muito obrigada.
Bejo
Fátima Guerra

Unknown disse...

Uma maneira habilidosa e encantadora de mostrar à criança uma sutil realidade.bjs

 
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