quarta-feira, 2 de maio de 2012

AOS FILHOS, MENOS PRESENTES E MAIS PRESENÇA

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A nossa vida profissional, apesar de suas elevadas exigências, pode muito bem ser ajustada a uma vida familiar e equilibrada. Significa, sim, menos lazer, menos convivência com os amigos, menos academia. Mesmo cansados, podemos ir além para cumprir o papel de pai ou mãe. A escritora e psicóloga Rosely Sayão é enfática: "O mundo mudou muito e as crianças, também. Só uma coisa não mudou: elas continuam a necessitar da presença cuidadora, reguladora, protetora e atenciosa dos adultos."


O que observo atualmente é que a dedicação excessiva ao trabalho muitas vezes está relacionada ao desejo de satisfazer as vontades do filho. Dar presentes a eles é bom e obviamente eles gostam. Mas ter mais tempo para a convivência traz muito mais alegria, com ganhos afetivos, sociais e cognitivos. Melhora o rendimento escolar, a autoestima e a autoconfiança para a vida adulta.


Conheço pais que em datas festivas, como aniversário, dia da criança, não oferecem presentes. Em troca dedicam uma tarde ou um dia inteiramente ao filho. São horas de muita interação: brincar num parque ou chácara, jogar bola, subir em árvores, pedalar, nadar, andar a cavalo, empinar pipa, correr de rolimã, dar banho no cãozinho, ler e contar histórias, cantar e ouvir música, assoviar, assistir a um filme, cozinhar, lavar os pratos e talheres, dialogar sobre os amigos e a escola. E não menos importante: pai e/ou mãe manifestam num belo cartão seu afeto e as principais qualidades e virtudes do filho, para o seu autoconhecimento. E se os pais propusessem aos filhos fazerem o mesmo?


Considere o melhor troféu, seu filho chegando em casa, com a roupa suada, suja ou molhada por uma chuva de verão. Ademais, as atividades ao ar livre, nos horários recomendados, fazem com que os benfazejos raios solares fortaleçam os ossos e são excelentes como terapia para a mente.


O acima exposto é uma alternativa saudável à Geração dos Shoppings. O filho arrasta toda a família a perambular pelas lojas desse Templo do Consumo e entregar-se desbragadamente à gula na Praça de Alimentação, que mais parece, nas palavras de Frei Beto, "comedouros de animais que precisam engordar." Via de regra, pouco diálogo, muita fila e "muvuca" e todos voltam para casa enfastiados e mais estressados. Pode, sim, ser um programa prazeroso, desde que feito com parcimônia, até porque não podemos criar filhos alheios aos costumes modernos.


Bem vindas as novas tecnologias, mas, como em todo processo educativo, o equilíbrio é indispensável. Condenam-se os gastos excessivos com a parafernália eletrônica e o tempo que uma parcela de nossas crianças e adolescentes lhe dedicam, até 33 horas semanais. Compromete relacionamentos interpessoais, a compleição física, a prática de esportes, leituras, estudos. Pesquisa publicada pela Rede Globo demonstra que 53% do conteúdo acessado pelo adolescente é escondido dos pais. A internet é um ambiente público, gerando a falsa sensação de anonimato e impunidade e, destarte, o novel usuário está mais exposto aos graves riscos da violência, sedução, pornografia e pedofilia.


Cobrir os filhos de muitos bens materiais - brinquedos, roupas, passeios, conforto - é uma imprevidência. Lembremos que muitos momentos felizes vividos por nós foram de interação e simplicidade, que custa pouco. Mais tarde, quando o filho já adulto e os pais, idosos, quase sempre resta o gosto amargo do arrependimento: de terem brincado pouco. "Brincar com a criança não é perder tempo, é ganhá-lo" , - ensina, já provecto, o poeta Carlos Drummond.


[Jacir J. Venturi]


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