[Garrincha, 1962]
Mais fácil trocar de sexo do que time.
Futebol é RG, CPF, certidão de nascimento, partido político.
Num tempo sem identidade, é o supremo vínculo. O elo com os outros. O que não migra com os dias. É se profissionalizar na esperança, é se aposentar na esperança.
Torcer por um time é a monogamia que funcionou, é o casamento que deu certo, é até que a morte nos separe, é permanecer junto na saúde e na doença, na Primeira ou na Segunda Divisão, é chorar derrotas acachapantes, é uivar em vitórias apertadas e gargalhar em goleadas improváveis.
Torcer é nascimento e velório juntos, todos os sacramentos reunidos na expectativa de alterar a vida com uma partida, alterar a vida de uma partida.
Torcer é tabelar com o batimento cardíaco. É atingir o extremo de si e não se cansar, é se confessar e roer as unhas, é se humilhar diante de um estádio cheio, é chutar o vento para acompanhar a cobrança de falta.
Faz ateu rezar, faz criminoso pedir perdão, faz família voltar a se ver, faz homem sério enlouquecer, faz marido roubar domingo da própria esposa.
Não importa se o time veio pelo regime monárquico, por imposição dos pais, ou democrático, pela própria escolha. Não se troca de time, assim como não se muda de alma.
Time é para sempre. Uma benção que nos define, uma maldição que não lutamos contra.
Não é sorte ou azar, certo ou errado, é costume. É lembrar de que se viveu a partir de jogos inesquecíveis. É quando a memória coletiva nos salva do esquecimento pessoal.
É transformar um simples jogador em ídolo, em padrinho, em exemplo. É beatificar o talento. É encontrar um atleta fiel à história de nosso clube mais do que a um momento. É adorá-lo pelo conjunto de cenas. É apenas enxergá-lo com as cores de nossa equipe, como um manto, um sudário. É Sócrates e Corinthians, é Zico e Flamengo, é Falcão e Inter, é Renato e Grêmio, é Pelé e Santos, é Garrincha e Botafogo, é Telê e Fluminense, é Raí e São Paulo, é Tostão e Cruzeiro, é Reinaldo e Atlético.
Buscamos justificar a torcida aos amigos, explicar racionalmente nossa decisão, mas torcer não é uma opção intelectual, não é um investimento seguro, não surge de estudo de mercado, de teste vocacional, não é algo que se gosta e se deixa de gostar, é algo que entra no sangue como vírus e nos contamina de fraquezas.
Qual é seu time? é a pergunta feita hoje logo depois da gente dizer o nome. Como um destino.
[Fabrício Carpinejar - 22/12/2011, Futebol é literatura]
1 bilhetes:
Oiee!!
Gostei do post....Carpinejar é show!!
Mas aproveitando e respondendo o post...sou corinthiana e logo hj posso dizer teve uma boa "volta do freguês"...1X0,rsrs.
Boa semana pra ti.
Bjs♥Paz!!
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